Casamento Não é Loteria: O Verdadeiro Prêmio Está no Trabalho Diário, Não na Sorte
A relação entre a recente premiação da Lotofácil e o casamento oferece uma metáfora rica para explorar a dinâmica conjugal. Assim como os apostadores que sonharam com os 200 milhões de reais não podem apostar todas as suas economias em um bilhete, acreditando que essa única ação resolverá sua vida financeira, no casamento não se pode “apostar” que o relacionamento se manterá por si só sem trabalho constante. Poucos casais começam “prontos”, e aqueles que realmente desfrutam de um relacionamento saudável são os que diariamente se dedicam a investir no vínculo. O prêmio não está em um bilhete mágico, mas na construção consistente.
Casamento: um processo contínuo de investimento
Muitos casais iniciam o matrimônio com grandes expectativas, acreditando que o amor romântico é suficiente para sustentar a relação ao longo do tempo. No entanto, essa crença é tão ilusória quanto achar que a compra de um bilhete de loteria trará estabilidade financeira garantida. Esther Perel, renomada psicoterapeuta, em seu livro The State of Affairs: Rethinking Infidelity, fala sobre a necessidade de cultivar o casamento como se fosse um jardim: “O casamento é algo que precisa ser nutrido ao longo do tempo. Não é uma entidade estática, mas um processo dinâmico que depende do cuidado mútuo e da atenção.”
Assim como no jogo, no casamento, muitos entram com a expectativa de vitória rápida, esperando que a paixão inicial sustente a relação para sempre. No entanto, a verdade é que os relacionamentos que prosperam são os que exigem paciência, compreensão e esforço contínuo. Essa visão é compartilhada por John Gottman, psicólogo e especialista em relacionamentos, que em suas pesquisas afirma que “casamentos duradouros não se baseiam na ausência de conflitos, mas na forma como os casais lidam com esses desafios e investem em seu relacionamento diariamente.”
O jogo da sorte e o casamento: ilusões e realidades
Apostar na Lotofácil com a esperança de ganhar uma fortuna instantânea espelha a crença equivocada de que casamentos saudáveis surgem naturalmente. Na loteria, as probabilidades de ganhar são extremamente baixas; enquanto isso, no casamento, as chances de sucesso são muito maiores, mas apenas para aqueles dispostos a “apostar” o trabalho diário. Não há atalhos.
Em seu livro O Amor Líquido, Zygmunt Bauman discute como a sociedade moderna busca gratificação instantânea em suas relações, acreditando que o amor deve ser fácil e sem esforço. Ele descreve o conceito de “amor líquido”, em que os relacionamentos são frágeis e facilmente descartáveis, refletindo uma abordagem semelhante à de quem compra um bilhete de loteria esperando por um prêmio, mas sem estar disposto a investir no processo. Bauman argumenta que esse tipo de expectativa leva à frustração, pois, assim como no jogo, a vida raramente oferece recompensas sem o devido empenho.
O casamento, como uma empresa a longo prazo, requer a compreensão de que nem sempre as recompensas são imediatas. É preciso trabalhar diariamente, desenvolver habilidades de comunicação, praticar a empatia e investir emocionalmente na relação. Não se trata de uma única “jogada” certeira, mas de um acúmulo de pequenos gestos, ações e compromissos que, ao longo do tempo, produzem um relacionamento saudável e duradouro.
A aposta no parceiro: confiança e compromisso
Quando alguém compra um bilhete de loteria, está essencialmente colocando sua fé em algo incerto. Da mesma forma, ao entrar em um casamento, os cônjuges depositam sua confiança um no outro, sabendo que o sucesso não é garantido e que as probabilidades de fracasso existem. No entanto, ao contrário da loteria, onde o apostador não tem controle sobre o resultado, no casamento, cada pessoa tem a capacidade de moldar o futuro do relacionamento através de ações conscientes.
Stephen R. Covey, em seu clássico Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, fala sobre a importância dos “depósitos emocionais” que fazemos nos relacionamentos, como se fossem investimentos em uma conta bancária de confiança. Ele destaca que, ao longo do tempo, os pequenos gestos de bondade, compreensão e apoio criam uma reserva emocional que fortalece o casamento. Assim como no jogo, onde se investe dinheiro com a esperança de retorno, no casamento, se investe tempo, energia e empatia, com a certeza de que esses “depósitos” construíram uma relação mais sólida.
O trabalho contínuo: planejamento e adaptação
Ganhar na loteria, por mais improvável que seja, ainda é uma questão de sorte. O casamento, por outro lado, depende mais de estratégia e adaptação do que de sorte. Como Gary Chapman sugere em seu livro As Cinco Linguagens do Amor, entender como seu parceiro se sente amado e reconhecido é fundamental para o sucesso da relação. O desafio está em identificar as necessidades do outro e aprender a expressar amor de maneira que seja compreendido, algo que não ocorre automaticamente, mas é fruto de tentativa e erro, observação e prática constante.
Além disso, os casais precisam estar preparados para enfrentar crises, incertezas e momentos difíceis. Ao contrário da loteria, onde uma vez ganhado o prêmio, a sensação de realização parece instantânea, o casamento é um processo em constante evolução. Como menciona Brené Brown em A Coragem de Ser Imperfeito, a vulnerabilidade é uma parte essencial dos relacionamentos, e os casais que aprendem a enfrentar juntos os momentos de fragilidade se tornam mais fortes.
Conclusão: O verdadeiro prêmio do casamento
O casamento não é uma loteria onde se espera um golpe de sorte. É um processo contínuo de aprendizado, adaptação e investimento emocional. Embora possa parecer tentador acreditar que alguns casais “nasceram prontos” ou que basta encontrar a pessoa certa para garantir um relacionamento perfeito, a realidade é que todos os casamentos exigem trabalho. A aposta, neste caso, não é baseada em sorte, mas no compromisso diário e mútuo de ambos os cônjuges.
Assim como o grande prêmio da Lotofácil é resultado de uma combinação improvável de números, o casamento bem-sucedido resulta da combinação diária de pequenos gestos, esforço e dedicação. A sorte pode até ser um fator nas circunstâncias iniciais de um relacionamento, mas o verdadeiro prêmio só é alcançado por aqueles que estão dispostos a investir no jogo todos os dias.
Dessa forma, ao invés de esperar um bilhete mágico para resolver os desafios, os casais devem aprender que o sucesso vem com trabalho contínuo, como John Gottman, Esther Perel, e Stephen Covey nos ensinam. E essa é a grande lição: não aposte tudo em um grande gesto, mas sim em pequenos investimentos diários. O retorno pode não ser instantâneo, mas certamente é duradouro.