A lesão de Pedro do Flamengo e os desafios no casamento

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A carreira de Pedro, jogador do Flamengo, foi abruptamente interrompida por uma lesão durante um treino, um momento inesperado que o afastou dos gramados por um ano, forçando-o a perder uma oportunidade de ouro: representar a seleção brasileira. Essa experiência, carregada de frustração e impotência, nos faz refletir sobre uma dinâmica comum nos relacionamentos: o que acontece quando um dos cônjuges não está “disponível” para a relação, seja por questões emocionais, físicas ou psicológicas? Assim como em um time de futebol, onde a ausência de um jogador exige que o restante da equipe compense o desfalque, nos casamentos, a ausência de um parceiro cria a necessidade de que o outro entre “em campo” com mais força e disposição.

O desafio de jogar em equipe


O casamento é, essencialmente, um time, onde dois indivíduos com histórias, sonhos e desafios pessoais decidem caminhar juntos. Como qualquer equipe de sucesso, há momentos em que um jogador está fora de jogo, seja por uma lesão física ou emocional. Pedro, em sua trajetória no Flamengo, precisará de tempo para se recuperar, e sua ausência coloca sobre os ombros de seus colegas a responsabilidade de manter o desempenho do time.

No casamento, essa metáfora se aplica diretamente. Quando um dos parceiros enfrenta uma dificuldade — seja uma perda de emprego, problemas de saúde, ou crises emocionais — o outro precisa estar preparado para entrar em campo, assumir responsabilidades adicionais e garantir que a “equipe” não perca o equilíbrio. Assim como no futebol, onde a cooperação, o esforço e a disposição de cada jogador são essenciais para o sucesso do time, no casamento, a união e o comprometimento dos cônjuges determinam a qualidade e a durabilidade da relação.

A crise da “lesão” no casamento


A psicóloga Esther Perel, especialista em relacionamentos, discute em seus livros e palestras a ideia de que todos os casais passarão por crises e desafios em algum ponto de sua trajetória. Esses momentos de crise podem ser comparados à lesão de um jogador como Pedro: imprevistos, desgastantes e, muitas vezes, paralisantes. Para Perel, crises são oportunidades de crescimento, desde que o casal esteja disposto a enfrentar os desafios juntos. Ela menciona que “o amor não é algo que simplesmente encontramos, é algo que construímos e reconstruímos várias vezes.”

Da mesma forma, John Gottman, uma das maiores referências no estudo de casamentos, aborda a importância de estar emocionalmente disponível para o parceiro. Gottman enfatiza o conceito de “bancos emocionais”, em que cada ação positiva no relacionamento contribui para um saldo positivo. Quando um dos parceiros se vê “lesionado” ou emocionalmente indisponível, o saldo positivo do relacionamento permitirá que o outro compense temporariamente, ajudando o casal a superar o momento difícil.

Quando um não está disponível, o outro entra em campo


Assim como Pedro precisará confiar em seus colegas de time para continuar a jornada enquanto ele se recupera, no casamento, a ausência de um dos cônjuges — seja por uma condição emocional, física ou psicológica — também exige que o outro assuma uma posição mais ativa. Isso não significa que o peso do relacionamento cairá inteiramente sobre um parceiro, mas sim que, em momentos de dificuldade, o conceito de “parceria” torna-se ainda mais vital.

A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e expandida por autores como Sue Johnson, sugere que os casais precisam de uma base segura um no outro para enfrentar os desafios da vida. Quando um parceiro está “lesionado” — emocionalmente esgotado, enfrentando dificuldades psicológicas ou questões de saúde — o outro é chamado a prover segurança e apoio. É um ciclo natural de interdependência, em que a força de um complementa a fragilidade temporária do outro.

Em seu livro Hold Me Tight, Johnson discute como os casais que conseguem manter uma comunicação aberta e empática têm mais sucesso em superar crises. A capacidade de um cônjuge de estar presente e suportar o peso do relacionamento durante as adversidades é um fator chave para a resiliência do casal. Ao contrário de um pensamento de “carregar o fardo sozinho”, é a noção de “carregar o fardo juntos, mas com turnos de liderança”.

A força da interdependência


O sociólogo Zygmunt Bauman, em seu conceito de amor líquido, aborda o desafio dos relacionamentos modernos, que muitas vezes são caracterizados por uma fragilidade nas conexões e uma tendência ao individualismo. Em casamentos onde há um comprometimento mútuo e sólido, o casal não vê a indisponibilidade de um parceiro como um sinal de fraqueza, mas sim como uma oportunidade de demonstrar o compromisso e o amor que os une. A interdependência saudável permite que, mesmo nos momentos de “lesão” emocional ou física de um dos cônjuges, o relacionamento continue a prosperar.

O casamento, assim como um time de futebol, exige ajustes constantes. Quando um jogador importante como Pedro é afastado, o time não para, mas se reorganiza para continuar. No casamento, o princípio é o mesmo: o outro entra em campo com a compreensão de que, em algum momento, também poderá precisar de apoio. O equilíbrio é uma dança contínua de dar e receber, de momentos de força e fragilidade.

O comprometimento de longo prazo


Autores como Gary Chapman, em seu livro As Cinco Linguagens do Amor, reforçam a ideia de que um relacionamento saudável se baseia na disposição constante de servir ao outro de maneira amorosa e atenciosa. Quando um dos parceiros está temporariamente incapacitado, o outro pode assumir as rédeas sem ressentimento, porque há um entendimento de que ambos estão no mesmo time, e o sucesso da relação depende da cooperação mútua.

Chapman enfatiza que as “lesões” no casamento, sejam elas físicas ou emocionais, são oportunidades para que o amor se expresse de maneira prática, através de gestos de cuidado, palavras de encorajamento e suporte emocional. Nesse sentido, o conceito de “estar disponível” para o outro transcende a simples presença física, abrangendo também a disposição emocional e mental.

Conclusão: Um time em harmonia


A história de Pedro, afastado dos gramados por uma lesão, serve como uma poderosa metáfora para os desafios que surgem em um casamento. A mensagem central é clara: quando um cônjuge está indisponível — seja por uma crise emocional, física ou psicológica — o outro entra em campo, pronto para apoiar, compreender e, acima de tudo, sustentar a relação.

Os casamentos de sucesso são aqueles em que ambos os parceiros compreendem que fazem parte de uma equipe, e como qualquer time vencedor, enfrentam juntos as adversidades, reorganizam-se diante das dificuldades e, acima de tudo, apoiam-se mutuamente. Assim como o Flamengo continua jogando enquanto Pedro se recupera, o casamento deve continuar firme, mesmo nas tempestades, com a certeza de que, no final, ambos sairão mais fortes e unidos.


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