04 de outubro, dia de São Francisco de Assis. O que podemos aprender com ele?

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São Francisco de Assis, uma das figuras mais icônicas do cristianismo, é lembrado por sua profunda devoção ao amor, à simplicidade e à fraternidade universal. Embora ele tenha renunciado a uma vida matrimonial tradicional para se dedicar à espiritualidade, sua visão de amor e comunidade oferece lições valiosas para a compreensão do casamento e da família. Ao longo de sua vida, Francisco não apenas pregou sobre o amor divino, mas também viveu um amor que transbordava para todos ao seu redor, sendo sua vida um modelo de como cultivar relacionamentos baseados no respeito, na renúncia ao ego e na valorização do outro.

O Amor como Expressão de Comunhão

No contexto de São Francisco, o amor não é algo reservado apenas para um parceiro romântico, mas é um princípio universal que se estende a todas as criaturas e, principalmente, à comunidade humana. O amor para Francisco é um ato de comunhão, de reconhecimento da dignidade e da beleza de cada ser. Em um casamento, essa visão pode ser traduzida em um convite para que o casal reconheça no outro uma imagem do divino, amando não apenas pela atração física ou pelas qualidades externas, mas por algo mais profundo: a essência espiritual que os une.

Segundo o teólogo Leonardo Boff, Francisco nos ensina que o amor é mais do que um sentimento; é uma ação contínua de renúncia e sacrifício. Em “São Francisco de Assis: Ternura e Vigor” (1981), Boff destaca que o santo vivia o amor como uma forma de serviço ao próximo, algo que pode ser aplicado no contexto familiar e matrimonial. Quando um casal assume essa postura de serviço mútuo, o casamento se transforma em uma prática espiritual, onde o amor vai além da atração inicial e se fundamenta na doação de si mesmo para o outro.

A Renúncia ao Ego

Um dos aspectos centrais do ensinamento de São Francisco é sua renúncia total ao ego. Ele trocou a vida de luxo e conforto pela pobreza, para melhor servir a Deus e ao próximo. No casamento, essa renúncia ao ego pode ser traduzida na disposição de ceder, de ouvir e de colocar as necessidades do outro em primeiro lugar. Francisco nos ensina que o egoísmo é um obstáculo ao amor verdadeiro, pois quando buscamos apenas nossos interesses, bloqueamos a possibilidade de uma conexão genuína.

O casamento exige essa constante disposição de abrir mão de algo. John Bradshaw, no livro “Creating Love: The Next Great Stage of Growth” (1992), argumenta que o amor genuíno só floresce quando ambos os parceiros estão dispostos a sacrificar seus desejos imediatos pelo bem do relacionamento. Para Bradshaw, a lição de São Francisco sobre renúncia ao ego é essencial para que casais possam construir um amor maduro e duradouro.

A Família como Comunidade de Amor

Embora São Francisco tenha renunciado à sua própria família biológica, sua vida não foi isenta de laços comunitários. Ele construiu uma “família” espiritual com seus seguidores, os franciscanos, onde o amor e o cuidado mútuo eram os pilares centrais. Isso nos leva a refletir sobre a família não apenas como uma estrutura biológica, mas como uma comunidade de amor, onde cada membro tem o dever de cuidar uns dos outros.

Segundo a escritora Margaret Barker, em “Family in Early Christianity” (2014), o cristianismo primitivo, inspirado por figuras como São Francisco, via a família como uma pequena igreja doméstica, onde o amor e a comunhão entre os membros refletiam a relação de Cristo com a Igreja. Da mesma forma, o casamento pode ser visto como uma microcomunidade espiritual, onde marido e mulher, juntamente com os filhos, são chamados a viver esse amor profundo e incondicional.

A Simplicidade e a Sustentabilidade no Casamento

Outro ponto importante da vida de São Francisco é sua escolha pela simplicidade. Ele abandonou todas as suas riquezas para viver uma vida de pobreza voluntária, valorizando as coisas simples e naturais da vida. No contexto de um casamento, isso nos ensina a importância de não complicar os relacionamentos com exigências materiais desnecessárias ou expectativas irrealistas.

Gary Chapman, no livro “As Cinco Linguagens do Amor” (1992), ressalta que muitas vezes os casais complicam seus relacionamentos ao focarem em aspectos externos, como status financeiro ou posses, em vez de se concentrarem nas pequenas ações cotidianas de amor. São Francisco, com sua vida simples, nos lembra que a verdadeira riqueza em um casamento não está nos bens materiais, mas nas atitudes de carinho, cuidado e compreensão mútua.

O Perdão e a Reconciliação

São Francisco de Assis também foi um modelo de perdão e reconciliação. Ele pregava a paz e frequentemente se colocava como um pacificador em conflitos, sendo sua famosa “Oração de São Francisco” um apelo à paz e ao perdão. No casamento, o perdão é essencial para a reconciliação e para manter o relacionamento saudável. Conflitos são inevitáveis, mas Francisco nos lembra que é possível encontrar a paz, mesmo nas situações mais difíceis.

Para o filósofo Paul Tillich, no livro “The Dynamics of Faith” (1957), o perdão é uma força poderosa que permite que o amor continue a crescer, mesmo após momentos de conflito. A capacidade de perdoar no casamento é um reflexo da humildade que São Francisco pregava, uma humildade que permite reconhecer os próprios erros e buscar a reconciliação com o outro.

O Amor Incondicional

Por fim, São Francisco nos ensina sobre o amor incondicional. Ele amava todos, sem distinção, e isso é algo que pode ser aplicado diretamente ao casamento e à vida familiar. O amor incondicional é aquele que não se prende às falhas ou imperfeições do outro, mas continua a amar, independentemente das circunstâncias.

Segundo a psicóloga Sue Johnson, no livro “Hold Me Tight: Seven Conversations for a Lifetime of Love” (2008), o amor incondicional é o alicerce das relações saudáveis, pois ele cria uma base de segurança emocional que permite que o relacionamento floresça. A lição de São Francisco sobre amar sem condições pode ajudar os casais a desenvolver essa segurança, aceitando o outro com suas falhas e virtudes.

Conclusão

Os ensinamentos de São Francisco de Assis oferecem lições profundas sobre como amar e viver em comunidade, lições essas que são diretamente aplicáveis ao casamento e à família. Sua ênfase no amor, na renúncia ao ego, no perdão, na simplicidade e no serviço ao outro são princípios que podem transformar qualquer relacionamento em uma experiência de crescimento espiritual. Como nos lembra Leonardo Boff, Francisco é um exemplo de ternura e vigor, e seus ensinamentos sobre o amor permanecem tão relevantes hoje quanto há séculos.


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